O que a gente pode fazer hoje para que crianças e adolescentes em situação de rua vivam com dignidade?
- Pamella Oliveira
- há 6 dias
- 2 min de leitura
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2024), mais de 80% dos adolescentes assassinados no Brasil são negros. O IBGE (2023) mostra que crianças negras estão entre as mais afetadas pela pobreza extrema e pela falta de acesso à educação, saneamento e saúde. Esses números não são apenas estatísticas são o reflexo de uma estrutura que continua negando humanidade a quem vem das periferias, das favelas e das ruas.
A dignidade, como lembra Sueli Carneiro (2003), é o ponto de partida de qualquer política antirracista:
“Sem o reconhecimento da humanidade plena da população negra, não há justiça possível.”
Cuidar da infância é, portanto, um ato político e ancestral. Como diz Conceição Evaristo, “a escrevivência não é para adormecer os da casa-grande, é para acordá-los dos seus sonos injustos”. Garantir que crianças e adolescentes vivam com dignidade é romper com os ciclos de silêncio e exclusão que naturalizam a desigualdade racial e social no Brasil.
O que podemos fazer hoje?
Ouvir e acreditar nas infâncias: crianças e adolescentes em situação de rua, institucionalizadas ou em territórios periféricos precisam ser vistas como sujeitos de direitos não como problemas sociais.
Fortalecer redes de cuidado comunitário, como abrigos, coletivos, organizações de base e movimentos sociais que atuam diretamente com infância e juventude.
Cobrar políticas públicas intersetoriais: saúde, cultura, educação, moradia e assistência social precisam dialogar para garantir proteção integral.
Promover acesso à cultura e à ancestralidade, reconhecendo o papel da arte, da memória e da educação popular como formas de cura e resistência.
Como aponta bell hooks, “o amor é um ato de vontade a intenção de nutrir o próprio crescimento e o de outrem”. Garantir dignidade à infância é, então, um ato de amor político: é olhar para o futuro e decidir que nenhuma criança será deixada para trás, invisibilizada ou violentada.
Na Pretas Ruas, seguimos construindo espaços de convivência, aprendizado e afeto, onde pessoas, crianças e adolescentes possam brincar, criar, sonhar e existir com alegria e respeito. Porque cuidar das novas gerações é cuidar do que temos de mais sagrado: a possibilidade de um amanhã que não repita as violências de ontem.
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