O Crime Perfeito e a Resistência Negra: Reflexões para o Dia dos Direitos Humanos
- Pamella Oliveira
- há 12 minutos
- 2 min de leitura
No Dia Internacional dos Direitos Humanos, somos convidadas a revisitar uma pergunta que insiste em atravessar a história do Brasil: por que corpos negros ainda precisam provar que são humanos?
A frase que inspira este texto lança luz sobre uma ferida aberta:
“O negro brasileiro tem que provar a todo instante que possui civilidade, racionalidade e afeto. Ou seja, que não é parte de nenhuma subespécie ou de alguma forma animalizada de existência. E se isso ainda deve ser provado, no século 21, é porque o Escravismo Colonial foi o crime perfeito." Prof. Viaro
Essa afirmação não é exagero, nem figura de linguagem. É diagnóstico. É um espelho que devolve para a sociedade o impacto de séculos de desumanização institucionalizada.
O “crime perfeito” e suas permanências
O Escravismo Colonial não terminou quando as correntes caíram; ele se adaptou. Transformou-se em desigualdades estruturais, violências simbólicas e narrativas que tentam questionar a competência, o afeto e a liberdade de pessoas negras diariamente.
Hoje, quando uma pessoa negra precisa se esforçar duas, três vezes mais para ser levada a sério, quando seu corpo é visto como suspeito antes mesmo de ser visto como cidadão, estamos diante das atualizações desse crime.
Direitos Humanos como prática viva
Celebrar o Dia dos Direitos Humanos não é sobre um ideal abstrato. É sobre reconhecer que, no Brasil, esses direitos ainda são condicionados pela cor da pele.
E isso nos convoca a agir. A construir políticas, redes, proteções e espaços onde a humanidade de pessoas negras não esteja sob julgamento, e sim esteja garantida.
É nesse compromisso que a Pretas Ruas se move: promovendo dignidade, reduzindo danos, abrindo caminhos, fortalecendo identidades e garantindo que pessoas negras ocupem espaços onde antes só lhes era permitido sobreviver.
Afeto, organização, presente e futuro.
Se o crime foi perfeito, nossa resposta precisa ser potente. E ela tem sido: através da mobilização comunitária, de coletivos, de articulações políticas, de lideranças negras que se recusam a negociar sua existência.
Direitos Humanos não se proclamam se praticam. E quando os exercemos em rede, garantimos que o futuro não seja apenas um tempo, mas um território onde nossa humanidade é inquestionável.
Direitos Humanos são prática não promessa!
No Brasil, o debate sobre Direitos Humanos não pode ignorar o recorte racial. Falar de dignidade, liberdade e proteção é falar também de quem tem acesso real a esses direitos —e quem ainda está lutando para que eles se tornem realidade.
Na Pretas Ruas, acreditamos que direitos humanos se materializam na prática:
quando acolhemos trajetórias atravessadas por violências históricas;
quando construímos acesso, pertencimento e oportunidades;
quando fortalecemos redes de cuidado e identidade;
quando garantimos que pessoas negras ocupem espaços onde antes só era permitido resistir, não viver plenamente.
Se o racismo estruturou o “crime perfeito”, nossa resposta é a organização coletiva, o afeto político e a construção de futuros possíveis. Porque não basta existir é preciso garantir que nossa existência seja respeitada, protegida e celebrada.
O Dia dos Direitos Humanos nos convoca a uma verdade simples e urgente:não há humanidade plena enquanto corpos negros tiverem de provar quem são.
E seguimos aqui, tecendo caminhos para que essa prova deixe, finalmente, de existir.








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